Drag Queens além dos palcos: a dor e a delícia de existir enquanto arte
Por Gustavo Domingues, Lucas Duarte, Luiz Felipe Nunes, Luíza Fernandes, Pedro Pilon, alunos do 1° JOC
“A sociedade não gosta da nossa existência. Então, quando resolvemos existir e não cumprir com os padrões que nos impõem, já é um ato político.”
E m um processo de quase seis meses, sete entrevistas e mais de dez horas de reunião de pauta, notamos uma expressão comum em cada conversa, relato e pesquisa: existir enquanto drag é um ato político.
Em 2020, elas existem na televisão, no cinema, na música e na internet. Para nós, contemporâneos, parece natural a presença drag em todos os cantos da mídia, porém é essencial lembrar que o caminho até esse espaço foi árduo, imperceptível e lotado de violências e preconceitos.
A chegada aos palcos
Em 1969, a cidade de Nova Iorque, que 100 anos antes era a sede do primeiro baile drag da história, presenciava um dos mais marcantes episódios da história LGBT: a Revolução de Stonewall. Após anos de luta para exercer o direito de existir, as drag queens protagonizaram uma verdadeira batalha contra policiais que invadiram o bar Stonewall Inn. A partir daí, a trajetória da arte drag e a resistência LGBT caminhavam de mãos dadas.
No Brasil, sob a influência da revolução estadunidense do ano anterior, a década de 70 marcava a “década gay”, na qual a região central de São Paulo abrigava as mais diversas e imponentes boates, com shows de transformistas e drag queens a um público que esbanjava diversidade e representatividade. Lugares como Medieval, Val Improviso e Homo Sapiens recebiam celebridades internacionais e eram festas de representatividade e cor.
No entanto, para Rubens Mascarenhas Neto, antropólogo formado pela Unicamp e doutorando em Antropologia Social na Universidade Livre de Berlim, a existência das drags estava longe de ser pacífica, por conta de leis como a da Vadiagem, que condenava a existência de “anormalidades” na cidade:
“Aqui no Brasil a gente tem também uma importância além dos palcos muito ligada a uma resistência, a momentos políticos muito difíceis. Se pensarmos na ditadura aqui no Brasil, várias artistas não tinham liberdade para andar tranquilas na rua”.
A epidemia da AIDS, na década seguinte, colocaria o glamour e as festas brilhantes das casas noturnas na clandestinidade. No Brasil e no mundo, a doença era passada para a população como “câncer gay” e condenava o público LGBT e as drags, mais uma vez, para debaixo do tapete.
Meio século após Stonewall, porém, a chegada da influente RuPaul à mídia, com seu reality show RuPaul´s Drag Race, de mais de dez temporadas, inauguraria uma nova área de atuação e presença das drags, que agora ultrapassam os palcos e conquistam espaço na TV, no cinema e na música. Para o antropólogo Vinícius Zanoli, doutor em Ciências Sociais pela Unicamp, as artistas triunfam em cada vez mais espaços nos mais diversos campos midiáticos, de maneira plural:
“Na questão das drags, acho que tiveram algumas que foram conquistando espaço nas mídias tradicionais, o que é muito importante, como a Pabllo [Vittar], que aparece muitas vezes em programas da Globo”.
A referida cantora Pabllo Vittar participou do programa Amor e Sexo, transmitido pela Rede Globo, durante toda uma temporada. O show contou também com os comentários de Lorelay Fox, uma das mais influentes representantes da arte drag no país. A influencer possui mais de 600 mil seguidores no Instagram e 800 mil inscritos no Youtube.
A drag é pra incomodar?!
Lorelay Fox, ou Danilo Dabague, tem 33 anos e é de Sorocaba, São Paulo. Além do seu canal do Youtube, também produz podcasts semanais sobre sua vida e assuntos diversos. E, no meio de tantos feitos, ainda pôde nos contar um pouco da caminhada de se encontrar na arte drag:
“Meu primeiro contato com drags foi quando ia em baladinhas com 16 ou 17 [anos] com meu namoradinho, e de primeira achei aquilo meio estranho. Achava legal, mas ao mesmo tempo estranho, pois é um exagero estranho se você não tá acostumado”.
Para ela, entretanto, o estranhamento é natural, porque a arte demanda hábito e só passa a ser compreendida quando representada.
“Toda arte é assim, você precisa ter um repertório pra achar bonito, e com a arte drag também é assim. Com o tempo eu passei a entender e achava legal, mas não tinha coragem de me montar. Até que meu amigo me convenceu. E daí não consegui mais parar, porque se torna uma paixão, né, é na arte dentro da drag que encontro uma válvula pra tudo aquilo que eu gosto, sabe, pra tudo aquilo que eu acho bonito, legal, divertido.”
Lorelay é sorridente, bem-humorada e defende, do início ao fim dos 45 minutos de entrevista, a arte como uma presença “incômoda, resistente e necessária”. Em uma conversa leve, conseguiu nos contar como é e o que deseja enquanto drag queen: ser vista, ouvida e entendida além do glamour das maquiagens coloridas e acessórios brilhantes.
Por causa disso, o visual também é parte importante da sua estratégia: segundo ela, o ritual da escolha do look é fundamental, já que impacta diretamente no que se fala, como se fala e quando se fala.
“Acho importante respeitar o limite das pessoas, ou seja, tem ambientes que posso chegar vestida da maneira mais chamativa possível, mas às vezes tem lugar que pode causar um atrito e afastar as pessoas. É ter que lidar com um tipo de conservadorismo, porém é preciso aprender o limite que você pode chegar e usar isso da melhor maneira possível.”
Danilo também é formado em publicidade, e até já trabalhou na área antes de seguir com a carreira de drag nas redes. Curiosamente, sua formação ainda lhe serve em muito na difusão de uma arte inclusiva. Ele defende a ideia de que se precisa vender a beleza do meio LGBT e, consequentemente, a sua luta diária.
“Eu tenho que ser mais polida para um hétero olhar e não achar que é tão estranho como quando eles olham para outras drags e acham bem exagerado, então eu abaixo bastante esse volume da montação para ficar mais fácil das pessoas gostarem.” Ela ainda completa: “É uma arte feita para o público, para causar alguma coisa na pessoa que consome, assim como qualquer outro tipo de arte. Muita gente sofreu para podermos fazer o que fazemos hoje”.
Danilo — mais do que Lorelay — nos mostra, à frente de uma câmera e desmontado da cabeça aos pés, a relevância que as drags ganharam na atualidade. Que a arte é incômoda, absorvemos desde o primeiro minuto de conversa, mas os lugares que ela desconforta são maiores do que se pensa.
E, de acordo com o antropólogo Rubens Mascarenhas, a drag é além do óbvio por resistir enquanto uma arte que anima, assusta e impressiona desde o primeiro contato:
“Acho que a importância delas além do palco é justamente isso: elas são uma presença pública irreverente , divertida, engraçada, provocadora, questionadora. Então, acho que nesse sentido elas estão ali, não sei, né, não só na boate. Não sei se posso dizer que elas transformaram tudo num palco, e ainda bem que fizeram isso: elas estão por todos os lados”.
A noite é uma criança (inexperiente)!
Além do nome no Serasa, comicamente confessado a nós, Eduardo de Oliveira também nos deliciou com um breve relato de sua carreira como a drag queen Duda Dello Russo: além de Dj, como maquiadora, já teve até participação especial na série internacional da Netflix Sense8. Com 24 anos, frequentou muito no passado a vida noturna da região central da cidade de São Paulo, trabalhando em diversas baladas como hostess e animadora do público.
Durante os cronometrados vinte minutos com que a reportagem figurava na disputada agenda de Dello Russo — pois, afinal, não é pouco ser drag queen, Dj, podcaster e influencer — , Duda defende que o divertimento dessas noitadas não sustenta a complexidade da arte drag, e representa somente a ponta do iceberg da potencialidade de toda a arte. Grandes drags da atualidade são essenciais, sim, mas, para ela, “quando elas [drags] falam, parece que não dão tanto espaço pra elas falarem o que querem realmente, é sempre muito raso”. Duda ainda completa:
“E eu realmente falo que a gente só consegue estar no local se a gente consegue se ver lá, e eu não me via em lugar nenhum ali como drag. Eu não via drag fazendo todas as coisas que faz hoje. Hoje em dia eu consigo ver uma drag em uma propaganda, no teatro, no Faustão, e as pessoas vendo isso conseguem falar ‘acho que vou começar a me montar porque talvez eu também chegue lá’; quando eu comecei a me montar não tinha ninguém lá. Hoje em dia acho que conseguem ver uma possibilidade”.
Os fortes princípios de Duda a tornaram proprietária de importantes podcasts para o cenário LGBT na mídia. Inaugurou o Santíssima Trindade das Perucas ao lado das performers Bianca DellaFancy e LaMona Divine em 2019 e o Disk Bicha, junto da também DJ S4TAN, ainda em 2020. Juntos, os programas contam com mais de 70 episódios e falam de assuntos da atualidade, indo além da pauta das drag queens.
“Ter pra mim três drags fazendo um podcast, em um ambiente que eu só via ou héteros fazendo ou gays normativos, sei lá … eu nunca via drags fazendo, travestis eu vejo muito pouco fazendo ainda, eu vejo muito pouco minorias fazendo podcast. Estão fazendo agora, mas eu sentia essa necessidade realmente de ter outras vozes e de ter outras vivências, e chamar outras pessoas também, porque nosso podcast não é só a gente, né… Enfim, tem vários episódios de diversos assuntos que são vozes que precisam ser escutadas.”
Seguindo sua defesa, a artista ainda nos explica que as drags devem ultrapassar a noite paulistana e se aventurarem na dor e delícia de se descobrirem resistência e força, dentro e fora dos holofotes. No entanto, não abre mão do amor pelas festas: como Dj, viaja pelo Brasil todo produzindo sua música e mostrando que drag não é só pra dublar, bater cabelo e fazer o pessoal bêbado da balada cair de dar risada:
“Sempre tem ainda uma galera que duvida do que eu faço, que realmente não acha que eu sou DJ, que só vou dar um close como drag, vou abrir um leque, sair rebolando no palco. E, tipo, minha vibe nem é essa, sabe? Eu chego na boate pra realmente tocar, mostrar que eu sei tocar como DJ. E aí toda vez que eu vou tocar em algum lugar, que eu viajo pra outro estado, as pessoas ficam passadas que eu vou realmente tocar, não vou dar close. Ou você dá seu nome ou você dá seu nome”.
A drag, enquanto artista, sente todos os dias, e cada dia mais, a necessidade de conquistar outros espaços além dos palcos. Lorelay e Duda nos contaram sobre suas aventuras por entre as redes sociais, o YouTube e o Spotify. Sobre isso, Rubens Mascarenhas opina:
“Hoje elas estão fora dos palcos, mas elas transformaram nossas casas nos palcos delas. O espaço público é fundamental, mas acho que elas têm conseguido driblar essas situações”.
As lutas e vitórias das drags ganham cada vez mais visibilidade e aprovação de grande parte da sociedade, mas, como em quase tudo, alguém é afetado pelo padrão da visibilidade do mainstream. E como será que nascem, crescem e sobrevivem essas artistas por trás das cortinas da representatividade?
Por trás da cortina tem história
“Nunca aconteceu algo direto, somente olhares e pessoas fazendo você pensar que sua drag não se encaixa naquele lugar. Existem muitos tipos de preconceito dentro do meio [drag], mas é fácil para a drag do centro, que tem o dinheiro para bancar suas montagens, criticar outras que não têm.”
Essas são as palavras de Madh, 22 anos. Uma drag do bairro do Campo Limpo, na Zona Sul de São Paulo. Estudante de moda, nos contou um pouco sobre a sua vida dentro e fora do mundo drag: já trabalhou em brechós e realizou estudos diversos referentes ao gênero dentro das vestimentas, principalmente porque eles se referem a um dos cernes de sua vida: a não binariedade.
De maneira simples, não binária é a pessoa que não se identifica com o gênero masculino nem com o feminino, estando dessa maneira fora da binaridade de gênero. E, por causa disso, Madh sente-se muito confortável dentro do meio drag, que, para ela, é uma versão a mais de si própria:
“É somente uma performance exagerada do que já faço no dia a dia, que seria brincar com gêneros”.
Nesse sentido, o já citado antropólogo Vinícius Zanoli esboça um possível cenário que justifica a beleza da arte drag enquanto território favorável para a fluidez e experimentação, em diversos âmbitos:
“Concordo com a filósofa norte-americana Judith Butler quando diz que as drags são uma maneira de satirizar as divisões de gênero rígidas. As experimentações de gênero são importantíssimas para as pessoas se encontrarem no que realmente querem ser”.
O problema, no entanto, se concentra nos preconceitos que essa experimentação carrega, dentro e fora do meio LGBT. Para contextualizar essa ideia, Madh nos conta do preconceito sofrido numa noite em que frequentava baladas de grande relevância para a representação drag queen, na região central de São Paulo:
“Era o começo das minhas montagens e fui com uma maquiagem bem punk e não queria usar peruca, então carreguei na mão mesmo e fui toda escrachada. Só de chegar lá desse jeito as drags já olhavam feio, como se você não pudesse estar ali daquele jeito”.
E a antipatia com o que foge do padrão é uma característica inerente de uma sociedade que aprende a passos de tartaruga a lidar com o diferente. Mesmo quando inseridas dentro de propagandas, filmes, clipes de música e séries, elas ainda seguem um padrão ressaltado por Vinícius Zanoli, de uma drag que é branca, com perucas loiras e maquiagem com tons claros.
Segundo Rubens Mascarenhas, os obstáculos de desviar desses padrões são mais do que olhares receosos e ofensas sussurradas em boates lotadas:
“Drags que estão fora do padrão estético exigido pela sociedade acabam tendo essa dificuldade, pois acabam sendo tachadas de ridículas e coisa do tipo. [Mas] não dá pra dizer especificamente que isso vai acontecer com todas elas”.
O termo queer foi criado para designar o bizarro dentro da performance de gênero. Para a já citada filósofa Judith Butler, o conceito ilustra um “sujeito da sexualidade desviante que não deseja ser integrado. Desafia normas, desconforta e é ambíguo”. Em resumo: a pessoa queer é aquela que desafia a heteronormatividade com o “anormal” para a sociedade e, dessa forma, configura alguém que brinca com uma realidade de gênero construída para performances sociais.
Assim, Gabriel Morgante compartilhou conosco a sua trajetória enquanto uma drag — não queen, mas queer — em meio a uma envolvente e bem-humorada conversa característica de sua emblemática personagem Morgana Histriônica.
A personagem Morgana é, à sua própria maneira, a “Salvação, renascimento e força”, conforme dito pelo seu próprio criador. Dentre suas características mais marcantes, o que mais chama a atenção de quem a vê maquiada, vestida e devidamente produzida é a maior anormalidade para quem se acostumou a assistir Pablo Vittar, Gloria Groove ou quaisquer outras drags gigantes da mídia: o bigode.
“No começo eu tinha cedido à ideia de a personagem ser completamente feminina, tanto que fiz algumas propagandas sem pelos e percebi que estava tirando para o mercado, mas não para mim, pois fazia trabalhos autorais de bigode. Em relação às outras drags, elas nunca me falaram coisas do tipo, mesmo que possam comentar entre elas, porém acho que o bigode se tornou uma coisa tão fundamental para a Morgana que as pessoas não conseguem vê-la sem. Então acredito que hoje eu já não sofra mais com preconceitos e, mesmo que falem mal, o bigode vai continuar lá.”
Morgana Histriônica concentra sua performance no humor ácido sobre suas vivências pessoais e problemas que agora habitam o passado. Para ela, o glamour das perucas e roupas extravagantes é apenas uma das muitas máscaras que nos vestem enquanto vivemos nesta terra.
“Sou uma pessoa muito fluida e não gosto de me limitar a algo, por isso escolhi uma coisa que seja bem ampla, em que eu possa fluir entre esses gêneros que me satisfazem juntos. A Morgana, que eu chamaria de um alter ego, seria como se eu experimentasse algumas formas de ser, canalizadas em uma figura.”
A respeito da representação, dela e de todas as outras drags, desabafa:
“As drags não foram feitas para serem apreciadas somente na calada da noite. O que a gente tem a dizer é muito importante, nobre. Ser drag é ser lutador, lutadora, e gostaria que cada vez mais nós pudéssemos mostrar isso aos outros. Ser um artista é ser político, pois de qualquer forma estou querendo dizer algo”.
Dentro desse espectro, Bruna Tieme, de 23 anos, autora da drag Ginger Moon, também levanta a voz:
“Acho que quando estou montada eu me imponho mais, tenho um grande poder. Sou uma pessoa baixa, meço 1,66, mas quando me monto me sinto como se tivesse uns 3 metros de altura. As pessoas podem ter medo dessa persona e admirá-la”.
Ginger Moon é uma drag e, para o terror de muitos e admiração dos mais atentos, mulher. Representando o esclarecimento da drag queen como arte, e não identidade de gênero, Bruna nos mostra, através de roupas ousadas e montações que gritam a feminilidade do seu corpo e alma, que é possível, sim, suportar o fardo de ser mulher artista. Entretanto, infelizmente, essa bagagem pode ser ainda mais pesada do que aparenta:
“Estava chegando em uma festa aqui em São Paulo e na hora de cumprimentar as pessoas senti uma mão na minha bunda. Achei que era uma amiga minha, porém quando virei era um homem de mais ou menos 50 anos. Quando vi que era ele, o sujeito estava rindo da minha cara e fui para cima dele. Não bati no homem, mas coloquei a mão na cara dele tentando forçá-lo a sair. Depois as outras drags se juntaram a mim e ele foi expulso da balada. Depois de um tempo descobri que este homem havia passado a mão em muitas outras drags, porém nenhuma fez nada”.
Em meio ao relato, ela ainda nos confidenciou a força da opinião de alguém que vive as difíceis noites paulistanas montada de Ginger:
“Acho que o problema está na normalização do abuso sexual no meio gay. Isso é uma coisa que discuto com meus amigos: por que nenhum homem drag fez nada e ele teve que chegar a fazer isso em uma mulher drag para sofrer as consequências?”
Nessa perspectiva, Bruna é uma fervorosa militante da existência da drag enquanto ato político: principalmente de resistência. Como uma mulher dentro de um meio dominado por homens, a resistência é parte do seu dia a dia. E, nesse meio propriamente dito, dançar, cantar e brilhar, nos palcos ou na internet, é um ritual de renascimento das ondas de preconceito que ainda permeiam a sociedade.
“Com certeza, drags são atos políticos. Só de ela existir já é um ato político. A sociedade não gosta da nossa existência, então quando resolvemos existir e não cumprir com os padrões que nos impõem, já é um ato político. A drag de qualquer forma mexe com as pessoas, portanto, independente de ser bom ou ruim, é política.”
A luta é de peruca e salto alto!
“E se as drags soubessem que a sociedade sempre as excluiria de assumir o poder? Isso significava que eles tinham que parar de se vestir no sábado à noite? Não, o ímpeto compartilhado era socializar, se divertir e sobreviver, porque esta era a única vida que elas tinham pela frente e elas poderiam muito bem vivê-la.”
A drag queen, para quem a vê subindo a Augusta ou pegando o metrô na República, é uma celebração de beleza, animação, glamour e talvez até estranhamento. Contudo, quem se deixa levar por muita pesquisa de peito aberto vê que o salto é armadura, e a luta para resistir enquanto artista, performer e LGBT pode ser árdua. Porém, aprendemos que toda atalha em nome do amor, da alegria e da liberdade é válida se é recheada com muito bom humor, força de vontade e disposição, e que só conhece essa luta quem vive a dor e a delícia de existir enquanto arte.